Não tem como negar a tragédia no fato ocorrido em um posto de saúde em Belém, o drama humano, a desgraça que se abate sobre uma família, a dor irreparável, o turbilhão de emoções dolorosas num fato desses.
Além disso, o fato traz mais uma vez ao centro dos olhares, a questão da saúde pública no Brasil. Um dos maiores problemas criados pela grande concentração de renda, por um capitalismo insensível, por uma deficiente gestão dos recursos arrecadados e pela falta de uma efetiva prioridade nacional de emergência para o setor.
O mais lamentável neste episódio de Belém é que está se tentando emocionar mais pela forma do que pelo conteúdo. Ou seja, o fato do falecimento ter sido gravado ao vivo e editado para dar mais dramaticidade, revela mais interesse por índices de audiência, negócios e votos, do que pela busca sincera de soluções que amenizem o drama de quem precisa de saúde.
Até agora não se viu ninguém levantar a questão do crescimento da demanda por serviços de saúde pública gratuita. Alguém fazer proposições sobre gestão, sobre recursos, uma visão macro do que gera tanta dor. Todos querem ganhar seu espaço, capitalizar com a visibilidade que essa história gera.
Mesmo nos planos de saúde de qualidade as esperas por consultas e atendimentos de urgência e emergência estão cada vez maiores. É o caso de se racionar sobre o problema de atendimento para uma população que cresce num ritmo alucinante e precisa dos mais simples aos mais complexos tipos de atendimento.
Nota-se na mídia, principalmente a televisa, o império da superficialidade. Uma espécie de reality show de horrores com doses fortes de dramaturgia. A exaustiva repetição de lugares comuns e um absoluto divórcio e grande desinteresse com a realidade dos mais pobres.
Vivemos de fato da era da comunicação, onde a mídia pauta todos os setores da convivência humana. Vivemos o tempo da imagem, da filmagem, da guerra de informação, que contagia até os mais humildes moradores da periferia. Um sintoma chocante disso é perceber que a irmã da vítima, mesmo tendo seu irmão agonizando, procurava filmar tudo com o seu celular, como mostra um momento da reportagem de tv. Ali se vê tristemente que o gosto pelo espetáculo e do aproveitamento de situações tomou dimensões que beiram o absurdo.
É preciso não perder de vista que, mais que doentes, familiares, enfermeiros, médicos, repórteres, redatores, editores, secretários de saúde, prefeitos, governadores, presidentes, somos seres humanos. E que essa não é uma questão de sobrevivência política para este ou aquele setor, mas uma questão de sobrevivência física.
Edvaldo Silva
Telégrafo
Estudante
quinta-feira, 5 de julho de 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário